terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Resumo

Bem-vindos ao país onde os idosos são tratados como prisioneiros, os prisioneiros como cidadãos exemplares, os cidadãos exemplares como estúpidos e os estúpidos como lordes.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Os envergonhados de amar

Entramos na geração dos envergonhados de amar, a geração à rasca para amar. A geração que desiste à primeira, aquela que quando se depara com um problema numa relação, em vez de o resolver, pega nele e atira-o à cabeça do outro. Entramos na geração do “tranquilo”, do desempolgado, do desistente. Já poucos sabem o que é amar e, menos ainda, são aqueles que amam. O amor anda resumido a poucas palavras e a gestos condensados. Anda resumido ao cansaço e à crise. Anda resumido a troca de palavras em redes sociais, a mensagens e chamadas apressadas ou saídas esgotadas no final do dia. O verdadeiro amor dá trabalho mas não cansa. Ninguém paga para amar, amar não cansa. Só o fingimento de amar é que cansa. Desgasta as palavras, os gestos e esconde o que o verdadeiro amor tem de melhor. O verdadeiro amor anda escondido. O mundo envergonhou-se de amar mas, não se envergonhou de mentir, de enganar, de matar. O mundo esqueceu-se que o fingimento de amar mata o amor. Andamos no “faz de conta”, o “faz de conta” que amamos. É-nos mais fácil mandar o amor para bem longe do que lutar por ele. É-nos mais simples o silêncio ou o “logo se vê” do que o dialogo. Amar deixou de ser para qualquer um. Dialogar deixou de ser para qualquer um.

O agora chamado “amor”, vestiu-se de aparências e só cheira a sexo. O agora chamado “amor”, esconde-se e tem medo de assumir o que sente. Tem medo de si e dos outros. Medo da critica e da luta. Medo de amar a sério. Medo de viver. Essa coisa que não é digna de ser chamada de amor. Essa coisa, esse interesse. Essa coisa, esse talvez gostar. E talvez gostar, não é amar. O talvez gostar vai passando tempo, não aproveita cada momento como se fosse o ultimo. O talvez gostar avança e recua consoante a predisposição e o interesse, não luta, não se esforça… Desiste facilmente. O talvez gostar não resiste a uma ausência, não resiste a um “não”, não resiste a objecções. O talvez gostar resume-se ao ir gostando enquanto dá, enquanto está perto e fácil. Enquanto ninguém vê ou sabe. Esse talvez gostar, esse modo absurdo de perder tempo e de levar tudo, até o amor, na “desportiva”.

Não é de esperar que todos amem a sério ou sejam capazes de dialogar, mas era bom que tentassem. Era bom que a inteligência fosse o prato mais pesado na balança em contraposição com a aparência. Era bom que se parasse para pensar e que se perdesse tempo apenas com o que interessa. Era bom que cada um pensasse, sentisse e amasse por si. Era bom que se tomasse consciência do quão ridícula é essa coisa, a coisa do “faz de conta”. E que, mais ridículo ainda é ter vergonha de amar, amar a sério.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2012