sábado, 19 de janeiro de 2013

O veneno para a cegueira da alma


Deixei um recanto de mim no canto frio ao fundo. Gélidas paredes e um chão, sem chão, onde deitei o corpo dormente. Finos dedos que se estenderam até ao tecto, até ao topo de mim. Quatro paredes errantes, seguraram um tecto que não era meu, um falso tecto que desmoronou. Esta casa sem lar é a morada de uma alma sem-abrigo, quem sabe, sem amigo. 
A fome do corpo foi, talvez, o veneno para a cegueira da alma.
...

Lisboa, 16 de Janeiro de 2013

Poesia



Não sei se é a poesia que pertence ao mundo ou se é o mundo que pertence à poesia. Sei apenas, que quem não a vê, certamente, não a entende. Quem não a entende, certamente, também não entenderá o mundo.
Nesta volta, sem volta, será a poesia parte de mim ou serei eu parte da poesia? Nesta questão, inquestionável, quem não a entende, certamente, não se entenderá a si próprio. Será a poesia a arte da beleza ou será o belo a poesia e, em tudo o que é belo, estará a rima de cada sentido, num êxtase de liberdade aprisionada à medida de cada sensibilidade, de cada imaginário...? Será a poesia parte de mim e desta feliz liberdade que me solta e ao mesmo tempo me prende? Ou será esta liberdade prisioneira que me faz sentir poesia no que me rodeia e, quem sabe, talvez em mim...?

Lisboa, 11 de Dezembro de 2012

Adormecer


Vou deixar-me adormecer com um sorriso... Um daqueles que vêm do fundo da alma, nos aquecem o coração e se fixam nos lábios... Mesmo nos que não se tocam. 

Lisboa, 9 de Dezembro de 2012

Espaço


Espaço!!!! Espaço para respirar. Espaço para abrir a mente. Espaço para me fechar em mim... Para viver em mim. Espaço para viver o que mais ninguém pode viver no meu lugar. Lugar para as coisas. Lugar para as arrumar. Lugar e tempo. Tempo e espaço. O meu espaço, o meu tempo... Num lugar meu, quem sabe, talvez nosso.

Lisboa, 3 de Dezembro 

Amor incondicional

Não sei o que lhe chamar para além de amor incondicional e, chamá-lo assim, será dizer tudo. O resto... O resto foi tudo o que sentimos, todos os momentos que partilhamos, todas as conversas que tivemos. O resto fez de mim a pessoa que hoje sou. Devias lembrar-te de tudo melhor do que eu, afinal era pequena demais para entender o mundo, o mundo do qual me protegias e onde me ensinavas a viver.... Mas por pouca que fosse a memória, há coisas que se guardam na memória do coração, porque mais do que vividas, foram sentidas.
A paciência para te sentares no chão a contar peças de lego ou a fazer "casinhas" comigo, as vezes que me adormecias, que brincavas comigo... Lembro-me da tua preocupação em ter sempre qualquer coisa do nosso agrado para o lanche (os pirolitos, as bolachas, a fruta...). Passei a gostar mais de fruta por tua causa. E de pão! De pão com fruta, de pão com pirolito (quem nunca experimentou não sabe do que te estou a falar...). Lembrou-me das histórias do petzi que me contavas e da forma engraçada como pronunciavas o seu nome. De todas as vezes que me ajudaste com os trabalhos da escola. Lembrou-me também das vezes que cuidaste de mim quando adoeci e até das vezes que ralhavas comigo quando fazia alguma asneira. Lembro-me de tudo, mais no coração do que na memória mas, não te preocupes, o que guardamos no coração o tempo não apaga... Fica lá para sempre. Foi assim, contigo, que descobri que o amor incondicional existe mas, também descobri que ele só parte de pessoas boas, como tu. Sempre foste a minha luzinha... Desde a altura em que a tua mão grande me cobria o corpo quase por inteiro e me aconchegavas, até à altura em que a minha mão passou a ser maior do que a tua (e até tínhamos os dedos parecidos...). Todos deviam ter uma luzinha assim... As pessoas como tu, aquelas que nos amam a sério e que nós também amamos, nunca deixam de existir, só partem para um lugar melhor, provavelmente, um lugar justo e seguro.Até ao dia em que as nossas luzinhas se voltem a encontrar, avó. 


Lisboa 13 de Novembro de 2012

Livre

Por vezes as virgulas não chegam. São necessários pontos. Pausas. Pensamentos. Pontos de mudança. Pontos de partida. Melhoramentos... Ou o abandono. O ponto parágrafo. O ponto final. Uma nova pagina. Uma nova escrita. Uma nova história. Uma nova leitura da vida com a pontuação certa. Racional, emocional e livre. Uma nova vida.

Lisboa, 17 de Julho de 2012