sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Os envergonhados de pensar


Se antes escrevi sobre aquilo que acho ser um grave problema, a vergonha de amar, hoje, escrevo sobre algo com uma dimensão semelhante… A vergonha de pensar.
Estou convicta que ambos os assuntos estão interligados e que uma coisa leva à outra. Perdeu-se a inteligência emocional e a inteligência racional. Resumindo, perdeu-se a inteligência. Ponto. Não porque ela tenha deixado de existir mas, como tudo o resto, passou a biblot (daqueles que todos têm na prateleira de casa para mostra mas que só usam, ou só se lembram que existem, uma vez no mês para lhes limpar o pó). No caso da inteligência, nem para mostra serve, muitos fazem o favor de a esconder, porque pensar dá trabalho e trabalhar é uma vergonha. Adiante… Uma coisa leva à outra. O que interessa é mostrar. O que interessa é a moda. E até essa, talvez pelo seu pouco interesse, muda constantemente em meia dúzia de meses. Mas mais uma vez… Adiante. Pensar dá trabalho e o trabalho não está na moda. Pensar não está na moda.
Na moda está o tempo perdido com tudo o que é fútil, está o pensar coletivo sem questionar, está o consumismo depravado. Consumismo, não só por sermos consumidores mas, também, por sermos consumidos. É fácil de entender? Julgo que sim. Talvez só complique para quem dá a cabeça ao vazio.  Dar a cabeça ao vazio também está na moda. O vazio é fútil. A moda é o vazio. E o fútil está na moda. E voltamos ao mesmo… Adiante novamente.
Tudo isto rima com aparência… O culto da aparência. E por mais estupido que possa parecer, neste caso, o culto não surge como uma forma de instrução nem de cultura, surge sim, como uma forma de adoração, muitas das vezes levado ao extremo. Ridículo? Pois é, mas há quem não entenda isto. Para entender uma coisa não basta vê-la, é preciso pensar sobre ela. E voltamos ao mesmo. Pensar não está na moda.  
A aparência e a moda puxam-nos (mais uma vez) para o consumismo. E quase tão importante como parecer bem, é vender bem. E agora entra a parte em que, para vender bem, é preciso pensar. O problema? Só alguns pensam. O problema maior? Os que pensam, apenas pensam em si e na melhor forma de enganar um bando de cordeirinhos infelizes que se perdem com todo o tipo de gadgets, que aqueles que pensam, lhes vão proporcionando. A melhor forma de calar o povo é mantê-lo entretido. E como o povo acha que pensar dá trabalho, deixa que dois ou três pensem por ele. Mais uma vez adiante… Há males sem cura e este parece-me um deles.
Andam escondidos atrás de fatos e gravatas ou mini saias e saltos altos… Afinal, o diabo anda no meio do povo, come do seu trabalho e ainda se ri dele no final. Alguém o vê passar? Poucos. Talvez meia dúzia de ovelhas negras, olhadas com desprezo pela sociedade, porque são os únicos com coragem e inteligência o suficiente para pensarem por si. Resumindo, são os únicos que entendem aquilo que veem. São, provavelmente, os únicos inteligentes. E isto vai leva-nos a outra questão. Porque só se valoriza o que não interessa? Porque o que não interessa é fútil e o fútil é fácil. E ser fácil está na moda. E a moda dá dinheiro. E o dinheiro leva ao sexo. E o sexo, mesmo pago, faz a carne sentir-se desejada. E o desejo incontrolável e a libertinagem tomam conta do mundo. O mundo está doente. A culpa, além de tudo o que já referi? Das pernas que se vendem e das carteiras que as compram. Ou se abrem as pernas ou as carteiras. Voilà… Dito assim até parece simples. E realmente é, para os estúpidos que não pensam, aqueles que vivem uma felicidade estúpida. Porque isto de ser estupidamente feliz implica inteligência a muitos níveis, cultura e o dedo do meio bem esticado ao consumismo e aos seus cordeirinhos. Não é realmente para todos. Nem sequer para aqueles três ou quatro que pensam por todos os outros. Afinal de contas até esses três ou quatro pensam em conjunto. Infelizes… Pobres consumidos que venderam a alma ao diabo encarnado nas telenovelas, nos jogos de futebol ou em reality shows devassos. E novamente… Adiante.
O tudo vai sendo resumindo ao nada. E no final o que resta? Nada. O vazio novamente. Alguns dos que às vezes pensam por si, acham que a inteligência está em juntar-se ao diabo. Mas a burrice consegue mesmo chegar a esse ponto? Parece que sim. Já dizia o velho ditado: “Se não podes com eles, junta-te a eles”. Assim funcionam os fracos. Fracos de inteligência, de espirito e de mais uma mão cheia de coisas. Infelizes. Vendidos. O dinheiro não compra a inteligência nem a beleza (aquela que, inquestionavelmente, será mais bela com o passar do tempo), nem sequer a saúde. A moda passa. A beleza física passa. E o dinheiro? O dinheiro é um veneno que mata de forma silenciosa e que usa os mais estúpidos, quando esses mesmos estúpidos, acham que são eles quem o controla.

Catarina Valadão - Angra do Heroísmo, 17 de Agosto de 2012

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O sorriso do coração


Mais importante que um sorriso alheio, é o sorriso do nosso coração.

Angra do Heroísmo, 13 de Agosto de 2012

Resumo

Roda tudo. Rodam todos. Resumem-se ao nada e ao nada vão resumindo o mundo. Reclamam de tudo e de nada, de todos e até de si… E rodando o mundo vai-se resumido ao nada de quase todos, ao nada de quase tudo.

Angra do Heroísmo, 13 de Agosto de 2012