quarta-feira, 21 de março de 2012

Mundo abstrato

A noite abateu-se como um manto baço e frio
E pela rua desceu um vestido agitado
Com pregas soltas rasteiras à calçada
De saltos altos numa dança sem destino
Movia-se num corpo ocioso e sem jeito
De cigarrilha entre os lábios e mãos livres
Subiu-lhe de rompante as sombras donas da cidade
E uma fresta de luz denunciou duas silhuetas em pecado
Fez da parede o seu amparo
Para escorregar o olhar sobre o vidro embaciado
O som abafado aqueceu-lhe o corpo
E colocou-lhe a saliva na boca
Saltou fora a beata e no alto do seu ego
Foi entrando, despindo e penetrando
Um mundo que de tão vazio era abstrato

Lisboa, 21 de Março de 2012

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